sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Prefeitura apresenta maior Réveillon que Salvador já viu


O Réveillon Salvador 2014 contará com 18 atrações em quatro dias de festa. Os detalhes da programação e da estrutura da festa foram anunciados hoje (13) pelo prefeito ACM Neto, na companhia do governador Jaques Wagner e do secretário de Desenvolvimento, Turismo e Cultura (Sedes), Guilherme Bellintani, em coletiva de imprensa realizada no Sheraton Hotel da Bahia. Pela primeira vez, a festa irá acontecer na Praça Cairu (Cidade Baixa), um dos mais belos cartões postais da cidade. A programação terá inicio no dia 29 (domingo) e segue até o dia 1º de janeiro (terça).


Na grande noite do Réveillon (31), irão subir ao palco Saulo, Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Pablo, que vão fazer a festa até o amanhecer. A virada será feita por Gil e Caetano, com uma queima de fogos realizada no píer do Distrito Naval, com duração de 14 minutos. Haverá, ainda, queima de fogos simultaneamente nos bairros do Comércio, Barra, Boca do Rio, Itapuã, Cajazeiras, Boa Viagem, Ribeira, Periperi e nas ilhas de Paramana, Bom Jesus dos Passos e de Maré para brindar a chegada do ano novo. Durante todos os quatro dias, os shows terão inicio às 20h.

A Praça Cairu foi escolhida como local para a realização da festa por conta do impedimento da Barra, que passa por obras de requalficiação. Haverá acesso à praia localizada na Avenida Lafayete Coutinho (Contorno), na altura do Restaurante Amado, para quem quiser brindar a virada do ano bem próximo ao mar. Três pórticos montados no acesso à festa darão as boas vindas, além de toda a estrutura de serviços públicos de limpeza, transporte e saúde, garantindo conforto e atendimento para quem passar o Réveillon no local.

O prefeito ACM Neto destacou durante a coletiva que a organização do calendário de eventos, do qual o Réveillon faz parte, permitirá que Salvador entre na disputa pelo principal destino de final de ano do país. “Será o evento mais expressiva de fim de ano em todo o país, já que nenhuma outra cidade terá quatro dias de festa. Vamos fazer de Salvador um dos principais destinos de Réveillon e, no próximo ano, voltando para a Barra, vamos disputar com o Rio de Janeiro, que já possui uma tradição na realização da festa”, afirmou, lembrando que a região que abrigará a virada já passou por um conjunto de intervenções para requalificação, a exemplo da Ladeira da Preguiça, onde foi possível realizar melhorias estruturais devido à desarticulação de uma cracolândia com ajuda da Polícia Militar.

Segurança - O governador anunciou que 1,5 mil homens por dia farão a segurança do evento e parabenizou a Prefeitura pela organização do evento. “O mérito é da Prefeitura, que conseguiu firmar parceria com a iniciativa privada para a realização da festa. Sabemos que o poder público precisa da iniciativa privada para promover eventos de grande porte, e que a iniciativa privada precisa do poder público para alcançar seus objetivos. Fizemos uma organização para o policiamento do local para os quatro dias de festa, aproveitando a experiência do Carnaval e do sorteio da Copa, realizado em Sauípe. Todos poderão desfrutar da alegria da Bahia e de Salvador”.
O secretário Bellintani lembrou que aqueles que participarem da festa terão mais conforto, a exemplo dos 20 sanitários em contêineres (cada um terá 10 cabines), que terão ar condicionado e ligação à rede de esgoto, sendo, portanto, um embrião do que acontecerá no Carnaval. Ainda de acordo com o titular da pasta, a parceria com os patrocinadores (Brasil Kirin e Coca Cola) viabilizou a realização da festa.
A Brasil Kirin, responsável pelo pagamento de todos os cachês, idealizou uma latinha específica para o Réveillon na cor laranja, simbolizando a energia da festa. “Teremos menor investimento público do que nos anos anteriores. É uma prova clara que com articulação e estratégia fazemos boas entregas para a cidade. Tivemos aporte importante da iniciativa privada, e isso faz com que sobrem mais recursos para outras atividades, sobretudo para as culturais”, acrescentou o secretário.

Serviço:
O que é: Réveillon Salvador 2014
Quando: 29.12.2013 à 01.01.2014
Horário: A partir das 20h30
Local: Praça Cairu (Cidade Baixa)


Fonte: http://www.secom.salvador.ba.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=43413%3Aprefeitura-apresenta-maior-reveillon-que-salvador-ja-viu&catid=56&Itemid=170

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Bahia Notícias - Entrevista Célia Sacramento

Célia Sacramento

por Rodrigo Aguiar, José Marques, Alexandre Galvão e Sandro Freitas
Vice-prefeita de Salvador e pré-candidata a presidente da República, governadora ou deputada federal, Célia Sacramento (PV) avalia o primeiro ano da nova gestão da capital baiana e garante que “o prefeito ACM Neto (DEM) é uma pessoa de esquerda”, apesar de nunca ter perguntado ao democrata de que lado ele se considera. 
 
Ao avaliar o legado da família Magalhães, ela diz que “nenhum gestor público da Bahia teve o cuidado com a cultura afro como o senador Antônio Carlos Magalhães”. A vice-prefeita também elogiou o sistema de cotas raciais e disse que ser contra a medida é prova de “desconhecimento” ou “racismo”. “Não é politicamente correto falar, mas sempre digo isso, tem vários negros que são racistas. Mas claro que 99% são brancos”, apontou. Célia também avaliou a oposição na Câmara de Vereadores ao citar o reajuste do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), que considera um projeto de esquerda. “Quando apresentamos um projeto na Câmara de Vereadores que vai beneficiar a população, e um grupo vota contra, quem é direita? Claro que são eles. Nós estamos defendendo os direitos da população. [...] Quer dizer, está contra o povo”, criticou.
 
A verdista ainda comenta a polêmica de que teria se valido do cargo para obter benefícios em um evento na Costa do Sauípe e revela que será candidata em 2014. Se perder, volta para a prefeitura.

Fotos: Júlia Belas / Bahia Notícias
 
Bahia Notícias – Estamos completando um ano da atual gestão municipal de Salvador. Qual avaliação a vice-prefeita faz deste período? Que ações foram feitas e em que setores?
 
Célia Sacramento – Ações em todas as áreas. Nós estamos trabalhando muito próximos da população, desde o primeiro dia após a posse. Eu e o prefeito temos visitado todos os bairros da cidade... Ainda não conseguimos ir a todos, mas estamos primeiro indo para identificar as demandas, depois para ver o início das obras e depois passando para inaugurar. Estamos reformando postos de saúde e, até dezembro, vamos ter um posto inaugurado por dia. Estamos fazendo reformas em muitas escolas, uma reformatação das orlas, tanto na Barra, quanto na Cidade Baixa, no Subúrbio e Paripe. Estamos iniciando a nova formatação da Orla, para que não haja mais equipamentos fixos. Vão ser equipamentos móveis. As pessoas já fizeram o cadastramento e estamos cuidando do ordenamento público, através da secretária Rosemma Maluf [Ordem Pública], organizando os ambulantes em um projeto inovador. A cada rua que ficava um amontoado de pessoas que trabalhavam no mercado informal, nós passamos a criar uma estrutura decente para o desenvolvimentos dos trabalhos. Estamos fazendo coberturas e vamos criar um sistemática bem padronizada para cada um ter seu espaço. Estamos vendo a possibilidade de fazer parcerias, inclusive com o Sebrae, para muitos desses trabalhadores que estão na informalidade se formalizarem, pagarem seu INSS e poderem ter direito ao benefício da aposentadoria. Estamos também contratando professores que passaram nos concursos públicos, lançamos o plano municipal do livro e da leitura e, em tempo recorde, estamos sendo modelo para o país. No Brasil todo tem o "plano municipal do livro e leitura", o nosso é o "plano municipal do livro, leitura e biblioteca". Queremos ampliar o número de bibliotecas e fortalecer as comunitárias, que são 46. Mas tem bairro, tipo Pernambués, – que, segundo o IBGE, é o mais negro da cidade –, que não tem nenhuma biblioteca, sequer comunitária. Queremos incentivar a população a criar as bibliotecas comunitárias e vamos intensificar a educação em tempo integral. É uma gestão muito preocupada com a cultura e a educação. Estamos resgatando projetos de muito sucesso como o Boca de Brasa, que dá oportunidade para quem faz cultura. Só que não queremos ir para a cultura do Pão e Circo, então temos o Boca de Brasa e, em paralelo, a feira de livros com oficinas.
 
BN – De vez em quando aparecem comentários e boatos de que a senhora e o prefeito ACM Neto (DEM) têm alguns atritos. Você e o prefeito estão em sintonia?
 
CS – Total! Eu não sei o que se comenta, mas todos os dias eu estou com o prefeito. Hoje eu despachei 35 itens com ele, conversamos com o cônsul da Inglaterra, que veio firmar parcerias, e eu estou como uma espécie de embaixadora da cidade, porque tenho viajado para outros países para representar a cidade. Salvador tem a vice-presidente da União das Cidades Capitais que falam Língua Portuguesa. Fui para duas reuniões: uma na Cidade do Cabo e visitei a Ucla, em Lisboa. Salvador quer abrir as portas para viabilizar irmanamento com cidades que queiram fazer intercâmbio cultural, econômico e de desenvolvimento sustentável. Sabemos que não tem emprego para todo mundo, mas estamos preocupados em incentivar a economia criativa. Estamos também com a primeira Secretaria de Cidade Sustentável, com um projeto maravilhoso voltado para a questão dos parques e jardins da cidade. Então, estamos em total sintonia.
 
BN – A senhora diria que sua principal responsabilidade é representar a cidade?
 
CS – Não, não diria. Uma das minhas atividades é essa. Mas, estou coordenando o Plano Municipal do Livro e da Leitura, estou ouvindo a população. É só frequentarem meu Facebook que vão ver minhas atividades. Recebo todo o movimento social, converso e resolvo as coisas de modo transversal, com todos os secretários. As demandas chegam, eu passo aos secretários e eles vão viabilizando, tudo em consonância com o prefeito. Temos feito um trabalho muito maravilhoso. O prefeito é um homem guerreiro, sério, jovem, trabalhador e não adianta... Contra fatos não há argumentos. É só você andar pela cidade que vai ver. Talvez, algumas pessoas não querem ver. Fazer o quê? Paciência...
 
BN – Que pessoas são essas?
 
CS – As pessoas dizem, é normal. Por exemplo, nós estamos trabalhando em vários bairros. Tem algum bairro que você não foi? Vários. Claro que vão dizer: "Não está fazendo nada". Isso é normal. O prefeito é preocupado com toda a cidade. Todo mundo pensou que ele ia fazer uma gestão só para Barra, Centro... Não! Ele vai muito mais para os bairros populares do que para os bairros do centro da cidade. Sem falar nas nossas prefeituras-bairros, com o secretário Reinaldo Braga fazendo um trabalho, primeiro, de diagnóstico e concluindo relações com as comunidades locais, para definirem as demandas e aí o secretário Reinaldo vai listar. Estamos ordenando a mobilidade urbana, algumas áreas que as pessoas estacionavam não vão poder mais. Vamos fazer realmente a licitação do transporte público e ampliar ou talvez triplicar a frota ao final dos nossos quatro anos de gestão. Vamos criar a Via Exclusiva. Estamos trabalhando muito, mas é normal que o pessoal faça as críticas. Se não houver críticas não se constrói. O importante é que a maioria da população está confiante quando vê a gente na rua, porque a gente não se esconde. Quando acaba o processo eleitoral o normal é que o eleito suma, mas a gente não.
 
BN – Nesse processo eleitoral, qual contribuição a senhora acha que deu para a eleição do prefeito ACM Neto? Ele teria sido eleito sem a senhora como vice?
 
CS – Eu acho que a minha participação foi fundamental por conta da perspectiva de a população poder ter uma referência: "Poxa, tem uma pessoa como nós, que veio da periferia, e que está ao lado de um candidato a prefeito com uma história de uma família que trabalha para a cidade". Porque a história da família dele deu contribuição inegáveis [ao estado]. Nenhum gestor público da Bahia teve o cuidado e a atenção com a cultura afro como o senador Antônio Carlos Magalhães. Todos os projetos sociais de hoje, Bolsa Família e tal, têm base em quê? No Fundo de Combate à Pobreza, que foi uma criação do senador. Agora, todos estão vendo o prefeito trabalhando. Ele conversa com todo mundo. Não faz: “Você é do PT”. Conversa mesmo e diz: “Vamos fazer juntos?”. Agora mesmo veio o secretário estadual da Cultura, Albino Rubim, para falar de um projeto. O prefeito e eu procuramos ter uma relação parceira e integrada com todos que queiram trabalhar. Não perseguimos ninguém. Tem várias pessoas em cargos, mesmo tendo sido, em parte, diretamente dos outros candidatos. A nossa gestão é de meritocracia. Quem tem qualificação e mérito está trabalhando com a gente.
 

 
BN – A senhora citou o senador ACM, mas parte do movimento negro, senão a maioria, é bastante ressentida com a gestão de Antônio Carlos...
 
CS – Depende do que você chama de movimento negro. Não sei o que é. O que é o movimento negro da Bahia?
 
BN – Lideranças organizadas de movimentos negros...
 
CS – Pronto, lideranças organizadas. Mas se você chegar no bairro e conversar com o povo negro, não vai ouvir isso. Eu estive na campanha. É só ver fotos que dá para ver a população de todos os bairros pegando no prefeito e [dizendo] com emoção: “Poxa, resgate o trabalho do seu avô”. As lideranças estão falando que nós não estamos trabalhando...
 
BN – Existe uma diferença então entre o que se denomina movimento negro e a população, que seria representada por esse movimento?
 
CS – É normal que haja. Por exemplo, as pessoas votam em um candidato. Ele some. É a total dissociação. Aí você vai ver que, na gestão seguinte, aqueles líderes que o apoiaram já não estão mais com ele. Eu particularmente sempre fiz crítica ao senador, sempre disse: “Olha, não tem nenhum político que tivesse feito um investimento em cultura [como ele]. Mas, não fez investimento na educação”. A minha crítica sempre foi essa. E acho que essa é a principal [crítica] do movimento. Agora, ninguém pode falar que ele não fez. Isso é maravilhoso. O povo soteropolitano sempre lutou muito pela cultura. Se olharem a história vão constatar que só tivemos um levante para ter o poder enquanto negros, que foi a Revolta dos Malês.
 
BN – Você acha então que existe um ressentimento do movimento negro em relação a Antônio Carlos?
 
CS – Não acho, não.
 
BN – A senhora ainda se considera uma pessoa de esquerda?
 
CS – Continuo uma pessoa de esquerda, não tenho dúvida nenhuma. Agora, que é ser esquerda? Para mim é defender os interesses da população. Eu posso dizer que o prefeito ACM Neto é uma pessoa de esquerda hoje. Por quê? Porque está ali defendendo os interesses da população. Por exemplo, quando apresentamos um projeto na Câmara de Vereadores que vai beneficiar a população e um grupo vota contra, quem é direita? Claro que são eles. Nós estamos defendendo os direitos da população. Porque entramos na gestão, encontramos um débito de R$ 3,5 bilhões, e hoje temos dinheiro em caixa? Porque controlamos tudo, prática de governança coorporativa. A gente manda um projeto para a Câmara de Vereadores, um grupo vai e vota contra. Quer dizer, está contra o povo.
 
BN – A senhora pode citar um desses projetos?
 
CS – Quando a gente começou a discussão do IPTU, em que mais de 50% da população ficou isenta. Isso nunca aconteceu. Mudamos a isenção que era de R$ 30 mil para quase R$ 100 mil e isso beneficiou a população. Quem hoje vai pagar IPTU é que tem bens acima de R$ 100 mil. A oposição da Câmara é oposição por oposição. Graças a Deus que temos uma bancada íntegra e séria. Tem algumas pessoas da oposição que quando vêem que [o projeto] é alguma coisa para a população, dizem: “Não, vamos votar com o governo”. Tem alguns, poucos, que ficam no contra.
 
BN – Quem são?
 
CS – Não gosto de dar nomes. Não vale a pena.
 
BN – O IPTU então é um projeto de esquerda?
 
CS – Eu considero um projeto de esquerda. Todo mundo que faça alguma coisa na gestão pública em defesa do cidadão, é de esquerda.
 
BN – A senhora acha que o prefeito se considera de esquerda?
 
CS – Nunca perguntei a ele, não tenho interesse em saber se é de esquerda ou de direita. Acho que ele é da justiça, da equidade. Não está nem aí para esquerda ou direita. Para mim, ele acha que isso de ser de direita ou esquerda acabou.
 

 
BN – A senhora afirmou, no início da gestão, que iria provar que a prefeitura trabalharia com ações afirmativas. O que foi feito até aqui?
 
CS – Sucesso total. Primeiro ter conseguido trazer a professora Ivete Sacramento [Secretária Municipal de Reparação Social], que é a essência das políticas de afirmação social do Brasil, já que ela é a primeira reitora negra [da Uneb] e foi a primeira a coragem a implementar o sistema de cotas. A segunda: nós estamos desenvolvendo o combate ao racismo institucional. Já fizemos todas as atividades junto a cada secretaria. Por que o racismo é uma doença. Para se descobrir se é racista ou não, é só ela ver o que é racismo e se decidir. Não é justo que você encontre na gestão pública pessoas qualificadas, que poderiam estar em determinados cargos, e que não estão porque um secretário não trabalha com negro. Estamos fazendo uma discussão interna e o prefeito entende que, quando conseguir resolver o problema interno do racismo institucional, vamos poder fazer um trabalho melhor no ambiente externo.
 
BN – Dentro do próprio DEM diversas pessoas são contrárias a cotas raciais. Na Bahia, por exemplo, o presidente da Juventude do partido, Bruno Alves, se declara contra o sistema. A tentativa de instituir nos concursos públicos municipais cotas raciais não vai desagradar pessoas do próprio DEM, o partido do prefeito?
 
CS – Não acho. Uma coisa é você ser contra, todo mundo tem o direito. Só que nós estamos em um estado democrático de direito, onde todo mundo é a favor. O prefeito, vários secretários e [pessoas] de dentro do DEM... A maioria é a favor. Se ele [Bruno Alves] é contra... Eu, por exemplo, sou a favor, mas não sou do DEM. Então, ele vai ser voto vencido, como houve no Supremo. Ganhamos por unanimidade. Hoje em dia quem disser que é contra as cotas raciais está dizendo que ou não entende a discussão ou que é racista. Se a pessoa falar “sou contra” e você [perguntar]: “O que é cotas?”. [Ela] não sabe! O pessoal às vezes termina falando coisas sem saber. As pessoas me perguntam: “Célia, por que você, que conseguiu tudo através do mérito e nunca teve cotas para nada, é a favor das cotas?”. É só parar e analisar. Eu levei quatro anos para entrar na Universidade Federal da Bahia. Eu já tinha a média para entrar e não entrava. Por quê? Porque as vagas eram sempre para os alunos das melhores escolas de ensino médio, com alimentação, assistência médica e eu, às vezes, ia para o cursinho pré-vestibular com fome. É justo isso?
 
BN – Possivelmente tem outras pessoas contra as cotas dentro do Democratas. 
 
CS – Para mim é falta de entendimento, conhecimento detalhado do que é.
 
BN – A senhora acha que não entendeu ou...
 
CS – Ou é racista. É importante que saibam que o racista não é só o branco não, tem o negro também. E muito. Não é politicamente correto falar, mas sempre digo isso, tem vários negros que são racistas. Mas claro que 99% são brancos. 
 

 
BN – Recentemente saiu na imprensa que a senhora teria chegado a um evento em Costa do Sauípe, exigido quartos para seus seguranças e ainda teria se negado a fazer o check-in ou sido impedida. Foi publicado também que a senhora quis falar no evento, porque não deixaram, e a senhora teria criado um confusão ao dizer: “Eu sou Célia Sacramento, vice-prefeita de Salvador e quero falar”. O que aconteceu exatamente?
 
CS – A pura verdade? É só olhar meu Facebook. Estava no meu gabinete e chega uma cidadã chamada Silvana Saraiva e um cidadão chamado Joca Soares: “Professora, nós gostaríamos de lhe convidar para um evento que estamos organizando em Costa de Sauípe, dia 21, 22 e 23”. Eu disse: “Infelizmente não posso, porque estarei na Colômobia”. “Oh, professora, a senhora não pode antecipar esse voo?Porque é muito importante a sua participação”.  “Eu vou tentar”. Eles disseram: “Então vamos fazer a reserva [no hotel]”. Eu disse que não precisava, porque moro na Estrada do Coco e, exceto quando vou [dormir] com meus filhos, eu volto para casa. Quando cheguei no gabinete, dia 21 de manhã, recebo uma ligação do Joca Soares. “Professora, a Silvana quer confirmar a participação da senhora. A senhora precisa participar do evento, pelo amor de Deus, o governador vai ter uma reunião com os embaixadores africanos e é importante que a senhora participe”. Fui com a mesma roupa que estava, porque não dava tempo de passar em casa. Tenho dois assessores, policiais, que trabalham dentro do carro. Quando cheguei a Sauípe, Joca e a Silvana informaram que tinha reserva para “a senhora e mais quatro seguranças”. O governador ainda não tinha chegado. Eu disse: “Não vou ficar”. Até aí tudo bem. Fiquei esperando quase uma hora e disse: “Chame Silvana, eu vou ter que ir emhora”. Foi a hora em que o governador chegou. Eu saí do carro. O governador me cumprimentou às 20h40. Vi que era uma reunião fechada. O secretário Elias [Sampaio, secretário estadual de Promoção da Igualdade Racial] disse: “Professora, a senhora pode participar”. Eu disse: “Não, estive com eles [embaixadores africanos] semana passada”. “E a senhora está precisando de quê?”, Elias falou. Eu disse: “Vou ser sincera, queria jantar”. Ele me apresentou Renata, uma pessoa que cuidava do evento. A menina me conduziu até o restaurante com todos os meus assessores. Sai do restaurante, entrei no carro e... Graças a Deus o Facebook me salva, postei uma foto do banner que tinha na entrada, "Feira não-sei-o-quê, sucesso total”. Quem sai insatisfeita vai postar um negócio desse? E vejam o horário que postei. Fui embora. No outro dia, aquela apanhada.
 
BN – Por que a senhora acha que soltaram esses boatos?
 
CS – Na hora H fiquei: "Poxa, que pessoal do contra". Silvana me ligou e disse: “O deputado Luis Alberto não quer que você participe...”. Hoje eu estou imaginando isso, porque depois veio essa informação de que não era a Feafro que estava organizando, era só um apêndice. Eu não fui para lá à toa, fui com um convite. De manhã disseram: “a senhora vai fazer parte da mesa”. Isso dá um caso até de danos morais. É só pegar minhas ligações e ver se eu disse que queria ficar na mesa. Nunca falei. Só pegar as imagens, que já solicitei. Até agora, estou querendo interpretar o que realmente aconteceu, porque não sei. Eu fui para casa, de repente vi no outro dia Levi [Vasconcelos, colunista do jornal A Tarde] colocar "Célia 1, 2 e 3". Eu disse: “Meu Deus, isso aqui é muito grave”. Um repórter colocou uma vez um negócio bacana: “Célia Sacramento: uma estrela em ascensão”. Qualquer movimento que eu faça é motivo de atenção da mídia. Por exemplo, o dia do pedágio não houve nada do que disseram, não foi daquela forma, mas o pessoal tem que fazer aquele movimento. Já saiu várias vezes que “a professora não é competente, por isso que ACM Neto não sai da cidade”. Meu Deus, quando foi que se exigiu competência para algum gestor público aqui? Em nenhum lugar do Brasil. Você tem que ter apenas condição de votar e ser votado para assumir cargo público. Agora, eu sou contadora, advogada, especialista em auditoria, em tecnologia e sistema de informações, tenho mestrado pela melhor universidade da América que é a Usp, sou doutora em engenharia pela Universidade de Santa Catarina. E um cidadão na mídia ficar dizendo que eu não tenho competência. Eu digo: "Célia, você já deu alguma vez resposta?”. Eu não e esse é o meu procedimento. É só pegar meus alunos que são os melhores nas organizações públicas de terceiro setor. Pessoas que sabem da minha competência. E como consultora, nas várias empresas que eu prestei consultoria e se deram bem. Quantas empresas que eu prestei consultoria foram autuadas? Nenhuma. Quantas vezes a professora Célia já armou barraco em evento? Nunca. Pelo contrário, abro mão. O prefeito ACM Neto está todo dia inaugurando obras. Por que ela não está lá do lado dele? Por que está atendendo a população no mesmo horário. Aí a mídia fica: “Eles estão inimigos”. Não, eles estão trabalhando juntos.
 
BN – O presidente afastado do PV, Ivanilson Gomes, disse que a senhora pode concorrer a algum cargo ano que vem, deputada federal, vice-presidente ou até presidente da República. Alguma dessas possibilidade passa pela cabeça da vice-prefeita?
 
CS – Eu tenho conversado com o PV desde o início do ano, com o presidente [José Luiz] Pena, e sou muito feliz pela oportunidade. Eu já era candidata a prefeitura dentro do PV e me propuseram estar vice, aliada ao ACM Neto, e confesso que no início disse que tinha bandeiras que o ACM Neto não iria concordar. Eu defendo meio ambiente com desenvolvimento sustentável, políticas de igualdade, respeito a todas as formas de diversidades sexual, cultural e gênero, e eu defendo prática de governança coorporativa, transparência, prestação de contas e controle. O prefeito me disse: “É isso mesmo que quero, vamos construir um projeto para a cidade”. Eu falei: “Prefeito, tudo bem. Agora se você for um político como os outros... Como eu não preciso de política para viver, continuo pobre, mas tenho toda a minha estrutura. Minha casa foi construída bloco por bloco. Eu saio da gestão e quando me perguntar vou dizer que é porque ele não cumpriu”. Graças a Deus ele está além da minha expectativa. Deu para responder?
 

 
BN – Não (risos)... Célia é candidata ao que no ano que vem?
 
CS – Conversei com o partido que estou feliz, satisfeita pela confiança e trabalhando para honrar. Estou disposta a ajudar o PV na construção de um programa de governo para o país. Tenho viajado por todo o país para fazer palestra sobre os temas que acredito que são importantes: inovação tecnológica, aumentar produtividade, investimento pesado e real na educação... Eu disse ao presidente [do PV]: “Como sou vice e sou especialista em direito eleitoral, sei que o vice pode ser candidato a todos os cargos e voltar para a condição de vice. Então, estou disposta a ajudar o PV. Posso fazer as palestras e se o partido quiser serei a candidata a presidente da República. Se o PV resolver fazer alguma aliança e quiser também serei candidata a governadora. Se não achar conveniente, vou ser candidata a deputada federal. Eu estou a disposição para o que ele [PV] quiser”. Acho que a vida inteira me preparei para ajudar a população. Da mesma forma que eu estava em casa quando um movimento social me chamou para política e eu aceitei, hoje estou nessa condição. Existem três nomes no Partido Verde e posso ser escolhida. E se for, vou trabalhar com afinco.
 
BN – Quais são os nomes?
 
CS – Fernando Gabeira, Eduardo Jorge e eu. [Sou] pré-candidata a presidência, governadora e deputada federal.
 
BN – O fato é que ano que vem Célia Sacramento é candidata?
 
CS – Serei candidata, sem dúvida nenhuma.