segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Entrevista para o portal Bahia Notícias

Dividida entre os trabalhos como vice-prefeita e a campanha para vice-presidente da República pelo Partido Verde, Célia Sacramento defende as diretrizes da legenda e explica porque, em âmbito nacional, representa um “novo caminho”. Mesmo assim, ela garante que não haver conflito ideológico ao defender a candidatura de Paulo Souto ao governo do Estado, mesmo que a chapa apoie Aécio Neves. “Conversando com pelo menos dois dos candidatos [o PV] chegou ao entendimento de que poderia conciliar o projeto do candidato Paulo Souto ao nosso. Então estamos com um caso de sucesso”, acredita. Durante a entrevista ao Bahia Notícias, ela explica a necessidade das cotas, fala sobre as eleições de 2016 e diz que não se sente reduzida ao ser vista como “mulher negra”. “Eu acho maravilhoso esse destaque porque, se há uma coisa que eu tenho mais orgulho na minha vida é ser uma mulher negra. Na verdade as pessoas racistas e preconceituosas é que veem dessa forma”, avalia.


Fotos: Rebeca Menezes/ Bahia Notícias

Bahia Notícias: A senhora se apresentava, em 2013, como possibilidade de candidata ao governo do estado e acabou alçada à vaga de postulante a vice-presidente da República. Porque essa mudança?
Célia Sacramento: Desde a primeira vez que eu fui entrevistada para falar sobre o tema "Eleições de 2014" eu me coloquei à disposição do Partido Verde para o que ele quisesse: para ser candidata a presidente da República, a governadora ou a deputada federal. Eu só não seria candidata a deputada estadual.

BN: Por que não?
CS: Porque há vários candidatos fazendo um trabalho belíssimo e a minha ideia é fortalecer os deputados estaduais que já estão aí. Então entrar seria uma concorrência, na minha opinião, desleal considerando a performance que eu estou fazendo na cidade com o prefeito ACM Neto, que é uma performance de trabalho. E eu acredito na política como espaço de participação construtiva para o coletivo. Isso quer dizer que nós não podemos levar em consideração os nossos desejos individuais e sim levar os anseios do partido que tenham a ver com as necessidades do povo. O PV é a bola da vez.

BN: A sua candidatura à vice-presidência junto com Eduardo Jorge é uma chapa "puro sangue" do PV. É uma tentativa de demarcar território do partido no cenário nacional, já que em 2010 vocês tiveram a candidatura de Marina Silva como uma das mais competitivas daquele ano?
CS: Eu não diria delimitar território. O PV é um partido que não nasceu agora, tem quase 30 anos de existência, que vem pontuando questões sérias que têm a ver com as necessidades da humanidade. Ele discute a questão do meio ambiente com sustentabilidade há muito tempo. Sempre foi o principal foco. E  vai além, porque aborda as questões sociais e econômicas. Então quando a sigla se lançou na campanha majoritária em 2010, foi para dizer "Olha, existe outro caminho". Agora em 2014, mais uma vez estamos dizendo: tudo o que está aí colocado pelos três principais candidatos são iguais. O PV propõe um novo caminho em um debate que não é uma aventura do agora, e sim algo que viemos fazendo nos últimos 28 anos e que precisa ser encarado. O povo está nas ruas dizendo que quer mudança e os políticos estão aí, até hoje não apresentam nenhuma proposta nova.

BN: Quais são os temas transversais abordados pelo PV na campanha?
CS: Um dos nossos principais pontos é a questão do meio ambiente com desenvolvimento sustentável, que envolve todas as questões relacionadas à sociedade como um todo. Como pensar no fortalecimento da economia sem considerarmos a necessidade de aumentar a produtividade? Como aumentar a produtividade sem considerar os danos que isso pode trazer ao meio ambiente, ou sem investir no trabalhador? Como dar condição para esse trabalhador trabalhar bem e aumentar a produtividade se não melhorarmos a mobilidade urbana? E por aí vai. Então são todos aspectos que estão prejudicando, e muito, a condição de desenvolvimento da nossa sociedade. E o PV vem trazer respostas. Sem falar da questão do planejamento familiar. O nosso candidato Eduardo Jorge é um médico sanitarista altamente comprometido com a sociedade brasileira, baiano, mas que fez medicina veterinária na Paraíba. Ele foi quatro vezes deputado federal e fez toda construção do projeto do SUS na Constituição, é autor do projeto dos remédios genéricos, que reduz em 70% o valor dos medicamentos... Acredite, há um tempo as pessoas pobres vendiam seus barracos para conseguir fazer uma laqueadura de trompas, porque não podiam mais ter filhos. Não é que não queriam, mas não podiam mesmo. Então era uma loucura a sociedade dizendo, até por conta do impacto religioso, "crescei e multiplicai-vos". Mas quem não tinha condições não podia fazer a laqueadura, o aborto é proibido. E aí, o que fazer? Vender seus imóveis. E ao construir um projeto do planejamento familiar, hoje as mulheres podem fazer a cirurgia nas trompas e os homens também fazem vasectomia a partir do SUS.

BN: A senhora citou que o PV se apresenta como um modelo alternativo para os três grandes candidatos que aparecem a nível nacional. No plano estadual, também aparecem três nomes com conjunturas políticas similares: Paulo Souto, Rui Costa e Lídice da Mata. Por que a legenda não decidiu lançar uma candidatura alternativa também na Bahia?
CS: O PV até pensou em fazer isso. Porém, conversando com pelo menos dois dos candidatos chegou ao entendimento de que poderia conciliar o projeto do candidato Paulo Souto ao nosso. Então estamos com um caso de sucesso. Quando o PV aceitou o convite do candidato ACM Neto para fazer a aliança e eu fui participar como candidata a vice, nós fizemos um compromisso. O prefeito é um homem que já vem de uma história de compromisso com o meio ambiente porque ele assinou a agenda "Cidades Sustentáveis", que é internacional. Ele assinou um compromisso com o PV com os 43 pontos programáticos que dizem respeito a tudo o que nós acreditamos na questão ambiental. O nosso candidato ao governo, Paulo Souto, avança um pouco mais pela experiência que ele já teve de governar. É uma pessoa que tem uma visão social ampla. Veja que a primeira reitora negra do Brasil foi a professora Ivete Sacramento - que não é parente minha. O primeiro programa de cotas foi também no governo do Democratas (à época, PFL). E se nós temos hoje o Forte da Capoeira, que deu aos capoeiristas a oportunidade de estarem lá, mostrando internacionalmente o seu valor, também foi graças ao governador Paulo Souto. Então é uma pessoa que tem uma visão social, que fala da educação em tempo integral para a juventude, com aulas no turno da manhã e, pela tarde, atividades de música, de lazer, de cultura... Ele cria mecanismos para reduzir a mortalidade da juventude, porque são 37 mil casos de homicídio na Bahia nos últimos oito anos. E tudo isso atinge a juventude negra e pobre da periferia. Sem contar que na campanha ele vale muito mais o mérito do que o companheirismo. Os cargos serão para quem tem mérito. E quem ajudou na campanha e não tem mérito, nós vamos qualificar. Então, nesse momento, foi muito melhor fazer essa parceria.


BN: A senhora se mostra bastante engajada na campanha do Democratas ao governo do Estado, mas a campanha de Paulo Souto apoia o postulante Aécio Neves à Presidência. Como conciliar essa questão? Existe um equilíbrio?
CS: Eu não quero entrar no detalhe do outro partido, o PSDB, mas uma das coisas que mais me marcam em não querer participar, nesse primeiro turno, com o Aécio Neves é a questão da aceitação dele da redução da maioridade penal. Na minha opinião e na do partido, nós precisamos criar estrutura para que os jovens não sejam cooptados por tanta coisa ruim que existe aí à disposição. Quando um jovem comete um delito, claro que ele deve ser acompanhado judicialmente. Mas hoje o nosso judiciário não faz o acompanhamento devido para o jovem e querem resolver tudo de forma mais rápida, que é colocar na prisão, como todo mundo. E não é assim que se resolve. Então o meu ponto principal, entre tantas outras questões - ao menos no primeiro turno - é essa. Eu sou uma pessoa que, como professora, sempre acreditei muito na juventude. Não é a toa que na minha tese de doutorado eu falo da qualificação dos jovens para atender as necessidades do mercado. Não adianta ter um canudo na mão e não saber fazer. Você precisa aprender a fazer na prática, fazendo. Tem que ter oportunidade.

BN: E a coligação "Unidos pela Bahia" tem dado esse espaço para a candidata a vice-presidente da República falar para apresentar suas propostas?
CS: Eu acho que é até anti-ético falar. Já que essa candidatura tem um candidato a presidente, não combina eu estar falando porque aí entra em um conflito.

BN: Mas a senhora tem participado das caravanas...
CS: Sim, claro. Nas caravanas e em tudo. Eu fui para o lançamento do projeto de governo... Tudo que está lá eu vou, para mostrar que eu estou com o projeto no plano do estado.

BN: Não há um conflito nessa situação?
CS: Não, nenhum! É igual no caso de Salvador. As pessoas me falavam isso. "Mas não há um conflito entre as visões do PV, com toda sua história, e o Democratas?". E eu: "gente, claro que não!". Temos que fazer uma análise da necessidade da população. Uma coisa é o cenário nacional, outra totalmente diferente é o cenário estadual. Eu sou daqui, eu tenho uma história aqui. Eu conheço as realidades e as necessidades de Salvador e da Bahia, porque eu conheço todas as áreas do estado. Eu não posso me furtar de estar participando, apontando para o nosso potencial governador questões que só eu, pela minha realidade de vida, enquanto povo, poderia mostrar. Claro que você ter consciência social, como o prefeito ACM Neto, é muito importante para a construção das políticas sociais. Agora, você ser de lá, ter vindo da pobreza, e chegar nesse ambiente que eu cheguei, e poder falar com conhecimento de causa, é um outro olhar. E é isso que eu tenho feito com o governador Paulo Souto. Mostrando questões que são nossas e que o Aécio Neves não vai poder enxergar, porque não vai ter tempo de correr todo o Brasil e checar peculiaridades. Então na verdade, minha agenda está lotada com o Brasil todo, mas eu reservo um espaço para estar próxima ao governador. Primeiro porque eu fui uma das primeiras pessoas a acreditar na campanha dele. Até multa o TRE [Tribunal Regional Eleitoral] quis me dar, porque eu falei do seu potencial, antes mesmo dele ser definido. Quando estava entre Geddel, Rui Costa e Lídice da Mata, eu disse "eu voto em Lídice, entre os três". Mas eu comecei a fazer campanha para Souto, o tempo todo acreditando mesmo. E eu não tenho dúvida nenhuma: a população baiana vai referendar esse momento político. E eu preciso estar próxima para mostrar o quanto eu acredito que ele pode, de fato, contribuir para uma Bahia melhor.


BN: E em relação ao candidato a vice-governador, Joaci Góes? Ele fez alguns posicionamentos sobre as políticas afirmativas e se posicionou contra as cotas. Na entrevista ao Bahia Notícias, ele chegou a dizer que não as teria criado. Acontece algum desconforto ao você apoiar a candidatura de Paulo Souto e ter ele na chapa? O que você achou da escolha dele?
CS: O candidato Joaci Góes é uma pessoa que eu tenho na maior conta. Ele possui um grande conhecimento literário, político, com contribuições reais e efetivas para a Bahia no campo da política. Então é uma pessoa por quem eu tenho muito respeito. Eu sou uma pessoa que nunca teve oportunidade de ter cotas. A minha história de vida foi ajudar na construção das políticas de construção da igualdade. Mas eu não tive. Quase 30 anos depois eu sei que as cotas são necessárias, mas elas não são a solução. Elas são necessárias porque não é justo com uma pessoa que queira estudar mas não teve uma boa alimentação, não teve uma boa escola. Não é justo. Mas a solução, mesmo, é um pouco no nível do que o Joaci falou: educação igual para todos, que é o que ele está defendendo. Então é uma questão de interpretação. Quantas pessoas vocês conhecem que foram contra as cotas e tiveram que dar a mão à palmatória? O que acontece é que muita gente não entende o que é...

BN: O próprio prefeito ACM Neto...
CS: Eu nunca ouvi dele que ele era contra as cotas, então é você que está dizendo.

BN: Mas o partido dele, do qual ele era líder no Congresso Nacional, se posicionou contra.
CS: Pronto, então vamos falar sobre isso. Quando nós fazemos parte de um partido, um ambiente de discussão coletiva, como essa mesa, nós estamos em um estado democrático de direito onde todo mundo tem a oportunidade de expor suas ideias. Mas quando do grupo sai um encaminhamento, todo tem que seguir. Eu sempre entendi dessa forma. Eu não quero acreditar que o prefeito seja contra as cotas. Por ser jovem, por morar na cidade mais negra fora da África, por ter um avô com uma história de compromisso que o avô dele tinha com a cultura afro-brasileira e uma vinculação com uma série de movimentos sociais... E eu pude ver isso na campanha de 2012 de ACM Neto. A forma como as pessoas o endeusavam na rua e o carinho que as pessoas relacionavam a ele em função da história do avô. Agora é normal que as pessoas não entendam. Por exemplo: se você tentou passar no vestibular e não conseguiu porque, mesmo tendo nota, entrou no seu lugar um cotista, você vai dizer que é contra. Mas eu vou lhe contar. A primeira vez que eu fiz vestibular, sabe qual foi minha nota? 4,6. E eu era uma das melhores alunas da minha escola pública, em Periperi. Sempre acima da média. No meu segundo vestibular, minha nota foi 6,7. Eu achei que estava perto, porque a média da década de 1980 era 7. Quando eu atingi 8,3 e não passei foi que eu entendi o problema em que eu estava envolvida. Porque até então eu não entendia. Aí você vai ver o nome dos alunos que passa, com o sobrenome, e você percebe que não são os populares. E aí você entra em depressão, achando que é burro e que não vai conseguir passar nunca. Eu tinha até amigas que diziam "Célia, porque você não arruma um namorado com caráter e personalidade [faz gesto referente a dinheiro]? Essa coisa de estudar não é para preto e pobre não". Então isso deprime. Quantos amigos meus desistiram de estudar... Aí na quarta vez que fiz consigo uma nota acima de 9 e entro na universidade. E aí que eu entendo. Você olha para um lado e para o outro e não encontra alunos negros. Só tem branco. E que estudaram nos melhores colégios particulares. E eu não fiz Direito, Engenharia nem Medicina. Eu fiz Contábeis e Comunicação. Você tinha um aluno negro em Medicina, um em Direito... E a gente se encontrava nos corredores por identidade. A mesma história de pobreza, de luta, sem saber se íamos conseguir continuar na universidade... Porque a aula de manhã era em Ondina, de tarde é na Piedade. Depois é na Graça. Você não tem ônibus, não tem dinheiro e desiste! Ou seja, você nunca via passar, depois não consegue ficar lá. Você entende porque tem cotas? Por causa disso. Eu persisti porque tinha o apoio da minha família, mas quantos jovens tinham potencial e desistiram. E sabe quem coopta esses jovens? O tráfico. Eles identificam essas pessoas que tem potencial, mas que a sociedade não percebe. Então nós precisamos das cotas para dar oportunidade. É como se fosse para dar um equilíbrio. Então não vejo conflito nenhum, continuo gostando e confiando muito no trabalho, acho que a escolha foi muito boa, pela história de Joaci Góes eu acho que ele merecia ter essa oportunidade para a vida dele e vai ser, se Deus e os nossos baianos quiserem, nosso futuro vice-governador.

BN: Durante esse período eleitoral, com a campanha para vice-presidente da República, como fica o seu papel como vice-prefeita?
CS: Graças a Deus eu estou conseguindo conciliar. Inclusive eu dou satisfação à população através do meu Facebook, que é o meu principal canal de informação. Então eu chego no gabinete como sempre de manhã cedo, despacho com a minha equipe, planejo a agenda da semana, atendo as pessoas no gabinete, ao meio-dia sempre vou ao partido fazer algumas reuniões, de noite também. Mas sem misturar uma coisa com a outra. Não trato das questões de política no gabinete, só as questões da cidade. Até porque, a legislação eleitoral diz que eu não posso substituir o prefeito. Eu não tenho voz na cidade enquanto alguém da gestão pública. Mas eu posso estar nos espaços públicos porque eu continuo sendo a vice-prefeita.

BN: Vice-prefeitura, então, é um cargo representativo? Um figurante?
CS: Nesse momento, o direito eleitoral diz que o cargo de vice-prefeita é uma condição real, não desvincula. Tanto que a legislação eleitoral não exigiu o licenciamento. Mas eu não posso falar pelo prefeito. Quem substitui o prefeito agora é o presidente da Câmara. Se ele não estiver, substitui o procurador geral do município.


BN: Sendo vice-prefeita e concorrendo à vaga de vice-presidente, como a senhora avalia essa posição de "vice"? Qual é a função e com o que a senhora acha que essa posição pode contribuir?
CS: Tudo acontece nos municípios. A estrutura brasileira é dividida em município, estado e União, mas as coisas acontecem na esfera municipal. Então eu estou tendo a oportunidade de conhecer de perto as nuances e peculiaridades da necessidade do povo e levo essa experiência para o cenário nacional. Porque muitas das nossas dificuldades locais não são diferentes do Oiapoque ao Chuí. Eu levo esse contexto de discussão, de visão de como as coisas acontecem e como nós podemos desburocratizar. Nós temos uma estrutura, hoje, muito grande na gestão do Brasil e nós propomos reduzir o número dos ministérios. Nós queremos trazer um olhar onde possamos fazer as coisas acontecerem com menos burocracia na base. Nós temos uma carga tributária absurda - eu sou contadora tributarista e percebo a cada dia que os municípios recebem menos. E isso não pode acontecer. Então são essas questões que eu tento levar e discutir com o candidato Eduardo Jorge.

BN: A senhora continua como vice de Neto caso ele busque a reeleição em 2016?
CS: A eleição de 2016 ainda vai acontecer. Então não dá pra falar. É claro que eu estou gostando do trabalho que eu estou fazendo, mas não sei se o prefeito está gostando. Isso não se dá assim. Ainda tem dois anos para se discutir, se resolver. Se o prefeito achar que eu estou desenvolvendo um trabalho dentro das expectativas dele e se for vontade do partido, eu estarei à disposição. Também não adianta o prefeito concordar e, de repente, o partido não, então eu não sei. Eu acho que não é o momento de falar sobre essa seara.

BN: A senhora até citou a importância da primeira reitora negra... Qual foi o movimento do partido de escolher o candidato Eduardo Jorge como presidente? A senhora não acharia interessante ter uma mulher negra como candidata ao cargo, já que entre os 11 postulantes à vaga não são negros?
CS: Sem dúvidas, claro que eu acharia importante e o PV pensou nessa perspectiva. Inclusive já fez isso quando, em 2010, lançou Marina, que é negra. Essa é uma visão do PV há muito tempo. Essa é uma inclusão social e faz parte de toda uma visão da legenda. Agora nós temos outras questões a nos preocupar. O PV acredita muito nessa nossa candidatura e considera o fato de Eduardo Jorge ter sido deputado federal e estadual, secretário de Saúde e do Meio Ambiente do município de São Paulo, ter transformado a cidade de São Paulo nas questões ambientais - coisa que todo mundo pensou que estava perdida e ele conseguiu mostrar em oito anos que é possível... Ele conseguiu inclusive vender o CO2 de um grande lixão da cidade na bolsa, transformando resíduos sólidos em recursos para o município. Então nós fizemos uma análise disso, mais a minha experiência no executivo, e pensamos: o que o Brasil precisa? É só a representação de uma mulher negra ou uma discussão contextual, pragmática, política, social, econômica e ambiental? Então essa foi a opção. Nós temos duas pessoas altamente qualificadas e conseguimos fazer um casamento perfeito como nenhuma outra chapa tem. Com nível de experiência, com vivência do social, dos maiores problemas - eu sou educadora, ele é médico. Quais são os maiores problemas da população? Pergunte a qualquer um que eles vão responder: saúde e educação. O PV pensou dessa forma.

BN: Ainda nesse assunto, a senhora não acha que durante esse período foi muito enfatizada a questão da senhora ser negra? Isso fez com que o debate fosse reducionista?
CS: Não, muito pelo contrário. Eu achei maravilhoso esse destaque porque, se há uma coisa que eu tenho mais orgulho na minha vida é ser uma mulher negra. Na verdade as pessoas racistas e preconceituosas é que veem dessa forma. "Reduz porque a professora Célia é muito mais, tem mestrado, doutorado, duas formações...". Quando, fora de processo eleitoral, eu me vesti de baiana pela segunda vez, eu fui pra rua pra mostrar de onde eu sou. É uma questão de identidade. As pessoas às vezes confundem e aí pensam que, quando há essa discussão, há uma redução. É uma valorização e nós precisamos muito. Quando as pessoas entram na cidade e veem aquela placa "Welcome to Salvador" com uma mulher negra... Quando isso aconteceu aqui? Essa cidade sempre foi representada por mulheres loiras. Quando eu cheguei na Europa pela primeira vez, eu tomei um susto porque comecei a ver a visão do Brasil, da Bahia lá. Tirando a foto de uma baiana, todo o resto era branco, fora da realidade. Não era Salvador. Salvador se resumia à Barra, à Igreja do Bonfim... Coisas assim, bem estanques. Hoje mudou? Não, lá continua assim. Mas aqui nós estamos construindo coisas interessantes e aos pouquinhos vamos chegando lá. A Copa deu uma outra roupagem, muitos jornalistas que vieram viram uma outra cidade, o trabalho delicado e dedicado que eu e o prefeito temos feito 24h por dia, com atenção à cidade. Então eu vejo toda discussão como de valorização.

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