sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

CARTA ABERTA AOS CIDADÃOS SOTEROPOLITANOS: GANHANDO O PÃO DE CADA DIA NAS FESTAS E PRAIAS DE SALVADOR

Ganhando o Pão de Cada dia nas festas e praias de Salvador
Circulando, como cidadã, pela nossa – agora linda e limpa - cidade, em um olhar de amante antropológica, já que não o sou, porém se aprende com a convivência. Fico feliz em constatar que o nosso povo sofrido, sem oportunidade de emprego e qualificação profissional, pelo menos, tem oportunidade de ganhar um dinheirinho honesto, vendendo nas festas e praias da cidade. Tudo dependendo da criatividade e atitude de cada um, pois a Prefeitura disponibiliza as cadeiras e sombreiros.
Estamos em pleno quente verão soteropolitano e as oportunidades estão à disposição de todos que tem coragem ou necessidade de trabalhar embaixo desse sol escaldante, sem direito sequer, a dar um mergulho no nosso lindo mar resplandecente da Baía de Todos os “Santos, Encantos e Axés”.
Não tem sido fácil para nosso povo sofrido, que trabalha no mercado informal e precisa acordar todos os dias e pensar rotineiramente: “Como irei dar comida aos meus filhos hoje?”. Plano A, B e C: vendendo água, refrigerante, queijo assado na brasa e outras coisas, nas festas e praias da cidade. Essa tarefa não é fácil, primeiro porque apesar da disponibilidade pública de sombreiros e cadeiras para os ambulantes disporem aos banhistas, não existe um lugar público e seguro para guardá-los, ficando por conta dos vendedores “micro empreendedores individuais” a função de carregar, levar, trazer e armazenar, só Deus sabe onde e como, todos os dias. Segundo, isso dá uma comodidade maior aos banhistas, que não precisarão levar ou até mesmo adquirir os seus próprios equipamentos.
Vivi essa experiência na praia da Barra esses dias. Era um final da manhã de um sábado, resolvi ir à praia da Barra - agora toda requalificada – na qual ainda não tinha tido oportunidade de ir dar um mergulho. Não levei cadeira nem sobreiro, porém gostei de chegar e encontrá-los lá. Sentei acompanhada dos meus 2 filhos e um irmão. Só consumimos 3 refrigerantes e uma água de coco. Ficamos lá por mais de 3 horas, das 11:00 às 14:30. Pedimos a conta e fomos surpreendidos pelo acréscimo de 15 reais pelo uso do sombreiro e das cadeiras. Imediatamente eu falei sobressaltada: “Isso é um absurdo a Prefeitura disponibiliza gratuitamente”. Para minha surpresa, obtive a educada resposta do Comerciante: “São quase 15 horas, paguei para guardar, trazer e arrumei aqui na areia para a Senhora usar. Não posso repassar esse custo para os produtos consumidos. Me ajude a poder trazer amanhã e disponibilizar para outros, que como a Senhora, precisam usar estes, que custaram para estar aqui.”
Eu rapidamente pensei "quanto custa uma água de coco na praia? 4 reais. Nossa! Se eu for dividir os 15 reais por 4 dará quase isso." Envergonhada paguei os 15 reais e pedi a Deus que continuasse dando força, coragem, determinação e atitude para meu povo sofrido resistir, enquanto nós que estamos no poder pensamos em uma forma de ajudá-los a ganhar honestamente “o pão de cada dia” com dignidade e tendo o respeito e a compreensão dos usuários que como eu, não puderam levar, mas gostam de poder usar.

Célia Sacramento
Cidadã Soteropolitana e Vice-Prefeita de Salvador

Nenhum comentário:

Postar um comentário